" Do professor ao jogador de futebol, os relatos sobre quem viveu o terremoto e o tsunami ─ sem ter a experiência dos japoneses
A histórica convivência dos japoneses com desastres naturais, como o terremoto e o tsunami da semana retrasada, transformou-os num povo habituado a esse tipo de situação. Para quem vem de fora, é claro, é difícil tratar um fenômeno tão devastador como algo esperado. A maior parte dos 254 mil brasileiros que vivem no Japão, de acordo com a estimativa da Embaixada do Brasil em Tóquio, reagiu com apreensão. "Estava no trabalho e tudo balançou muito forte. Fomos liberados, mas, ao chegar à rua, vimos que nada mais funcionava. Transportes públicos, semáforos, trens, tudo tinha parado. Foi uma situação difícil", diz o professor da Universidade Católica de Brasília (UCB) Miguel Kamiunten, de 42 anos, que coordena um projeto de ensino à distância no Japão com cerca de 100 alunos brasileiros ─ a maioria concentrada em Tóquio.
Embora estivesse na capital japonesa, distante cerca de 350 quilômetros ao sul de Sendai, a cidade mais próxima do epicentro do tremor, Kamiunten conta que a cidade ficou caótica de repente. "Tudo piorou muito depois que as pessoas perceberam quão difícil seria chegar em casa", afirma. "Vi lojas de bicicletas vender todo o estoque rápido. Na rua, patinetes e bicicletas encostados eram roubados. A quantidade de gente era muito grande, e ninguém tinha o que fazer a não ser caminhar."
Por causa do terremoto, as tubulações de gás em algumas partes de Tóquio romperam, causando incêndios e mais confusão. "Vi algumas casas pegando fogo por causa de vazamentos de gás, e a cidade está um caos."
O maior problema, segundo Kamiunten, foi a queda generalizada nos sistemas de telefonia. Somada à grande quantidade de gente querendo entrar em contato com familiares no Japão, ficou ainda mais difícil localizar as pessoas nas províncias mais atingidas pelo tsunami, ao norte do país. Foi tensa a espera por informações da família do jogador de futebol Max Carrasco, de 26 anos. Ele atua no clube Vegalta Sendai, da primeira divisão da Liga Japonesa de Futebol (J-League), desde julho do ano passado, quando foi emprestado pelo Ipatinga, um time do interior de Minas Gerais. Os parentes ficaram horas sem saber como estava Max, até que um telefonema na manhã da sexta-feira os aliviou. Era a mulher de Max. "Eles disseram que estava bem e que tiveram sorte porque moram longe da costa e do aeroporto de Sendai, onde os estragos foram muito maiores", disse a mãe de Max, Clarice Carrasco, de Guariba, no interior paulista, onde a família vive.
Max tem um colega brasileiro do time de Sendai, o atacante Marcos Gomes de Araújo, de 34 anos, mais conhecido como Marquinhos Cambalhota. Marcos já morava no Japão desde 2001, quando deixou o Coritiba. Ele também morava numa região alta de Sendai e não sofreu ferimento. Até dia 14 de março, o Ministério das Relações Exteriores do Japão informara à Embaixada do Brasilque nenhum brasileiro estava entre a lista de mortos pelo terremoto e pelo tsunami.
A maior parte da comunidade brasileira no Japão vive em Tóquio e nas cidades de Nagoya e Hamamatsu, onde há consulados do Brasil. Quase todos são atraídos por salários melhores nas fábricas japonesas. Essa é a principal razão para não haver muitos brasileiros na região mais atingida pelo tremor. Segundo a Associação Miyagui Kenjikai do Brasil, que reúne em São Paulo os descendentes de japoneses dessa província, há algo entre 2 mil e 3 mil brasileiros vivendo em Miyagui ─ a maioria na capital, Sendai.
Ao norte de Miyagui, a província de Iwate também foi afetada pelo abalo. De acordo com Hiroaki Chida, presidente da Associação Cultural e Assistencial Iwate Kenjinkai do Brasil, que representa a província no país, havia poucas informações sobre os brasileiros de lá. "Tentei ligar para 23 pessoas em Iwate, mas só consegui falar com um parente. Ele disse que foi o terremoto mais violento que já viu, mas a cidade não foi tão destruída", afirma. "O governo de Iwate não atende os telefonemas, seja para telefone fixo ou para celular."
Depois do terremoto principal, muitos outros tremores secundários foram sentidos ao longo do dia 11 de março no Japão. Alguns chegaram a magnitudes superiores a 6,5 na escala Richter, um nível que os japoneses nem consideram tão forte, mas que assusta quem não está acostumado a sentir a terra tremer. Embora tenham passado por uma situação tão complicada, nenhum dos brasileiros disse querer voltar para cá. E, pelo menos desde o dia 11 de março, já estão um pouco mais preparados para o que possa vir pela frente num país marcado por tragédias naturais.
Artigo retirado da revista "Época".
Ja ne pessoal!!! Embora muitos já tenham até esquecido da tragédia japonesa, vou continuar a postar todos os detalhes sobre este terrível desastre! Boa noite para todos ^^
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